Eu tenho passado por esse processo há alguns anos, mas 2016 tem sido um importante divisor na minha vida e isso inclusive rendeu uma crise no meu vestir. Travei, fiquei me cobrando, mas cheguei à uma conclusão: faz parte repensarmos e aprimorarmos nossas escolhas, é normal repensarmos elas em alguns momentos. É normal evoluir e mudar de ideia para construir nosso estilo, que não muda na essência, só amadurece. 🙂
Acho que tem muito a ver também com a consciência cada vez maior que tenho ganhado sobre meu estilo por conta da minha profissão como consultora de estilo – e também por conta do amadurecimento natural. Na verdade, estou acompanhando o mesmo relato em diversos blogs e redes sociais, por isso acredito que seja tanto de inconsciente coletivo, quanto de uma urgente e necessária transformação pela qual o mundo está passando.
Gastar menos com “supérfluos” já que a inflação disparou, escolher melhor o que comprar, não transformar seu armário num depósito de roupas com etiquetas, repensar melhor as compras para poder investir num curso ou numa viagem, escolher comprar do pequeno e não das grandes indústrias.
Antes, se eu quisesse uma blusa amarela, passava numa loja de departamento, pegava do cabide uma que estivesse dentro do escopo, levava pro caixa, pagava e pronto. Obviamente esse método não funcionava. Hoje já pesquiso, vejo o que gosto, o que tem necessidade ou não de entrar no meu armário e espero o momento para adquirir uma que me vista bem e tenha coerência com meu estilo.
Um look que marca bem o autoconhecimento e a evolução do meu estilo: vestido soltinho e rasteira pra ir a um casamento. Sofrer de salto alto, nunca mais.
Mas como saber o que tem ou não coerência com nosso estilo? Como ganhar essa percepção para evitar futuras compras frustradas?
Tudo passa pelo autoconhecimento
Ter registros dos meus looks ao longo de 8 anos de blog, ajudou, hehe. Quando registramos nossas produções e as avaliamos ao longo do tempo, vamos percebendo o que funciona melhor pra gente, o que gera mais identificação.
A minha principal sugestão é de você parar de comprar por um tempo. Sim, dá uma segurada nas comprinhas, principalmente aquelas que você comprou porque achou lindo nos outros, e olhe mais para suas próprias referências.
Segundo, pesquise e salve o que você acha que tenha mais a ver com seu gosto pessoal e seu estilo de vida. É bacana também ter como inspiração o que você nunca testou, mas estaria disposto a experimentar, para abrir a cabeça também para novidades e, assim, ir ajustando ao seu estilo.
Observe se todos os looks têm coerência e pontos em comum: as estampas são mais gráficas e sóbrias ou mais coloridas e divertidas? É tudo mais neutro ou tem informação demais, com cores, estampas e brilhos? As formas são mais simples ou têm dobraduras, quase num origami, mais assimétricas? As estampas são mais pro vintage e delicado ou mais pros fundos escuros, sem destaque? As blusas têm mangas delicadas ou mais pontudas?
Minhas pasta preferida no meu pinterest denuncia um gosto pelo arquitetônico, formas amplas, geométricas e com boas doses de preto. Uma evidência dessa predileção é esse look que eu adoro, com casaqueto e blusa de formas mais retas, calça alfaiataria curta e um ponto de cor moderno, esse neon na biqueira do sapato. Mais amplo, mais formas estruturadas, muita personalidade. 🙂
Do que você realmente gosta? O que atrai mais o seu olhar?
Sei que muita gente não consegue responder essas perguntas de imediato, mas é um exercício difícil mesmo, e demorado. Talvez você nem consiga responder naquele momento, mas, aos poucos, vai começar a avaliar melhor cada escolha ou cada ida ao provador.
Somos induzidos a não refletirmos sobre nossas escolhas, é quase um sacrilégio não aceitar o que nos é imposto. Quase tudo é despejado goela abaixo e fazer compras pode ser frustrante quando alguma tendência está muito em alta e você não quer nada daquilo.
Da minha parte, eu fui percebendo que não gosto de nada romântico ou que tenha traços românticos: laçarotes, estampas fofas ou micro estampas, mangas fofinhas, florais delicados, rendas. Tudo, absolutamente tudo que eu tinha com essas características, saíram do meu armário.
Um exemplo do que eu usava nos idos de 2011, 2012: calça com pregas e estampa micro floral, ou liberty. Foi das minhas poucas peças com esse tipo de estampa (que era a maior moda na época) e em pouco tempo eu passei pra frente. Um dos indicativos que ela não tinha nada a ver comigo foi ter tentado quebrar a sua doçura com uma jaqueta preta e um sapato de inspiração masculina, mesmo sendo rosê (nessa época começaram a surgir os oxfords por aqui também!).
Eu até uso floral, mas tem que ser mais estilizado ou mais maduro, de preferência com fundo escuro. Prefiro o pesado ao delicado. Nesse look mais atual, de 2015, eu mostro exatamente o estilo que eu gosto de usar: ainda a jaqueta, com camiseta ou camisa, sapato mais pesado e baixo e calça resinada. Preciso de geometria ou de texturas diferentes, gosto de peças mais dramáticas que açucaradas – isso tudo pro meu estilo, deixando bem claro.
Look de 2015 mostrando o tipo de floral que mais me identifico: estampa grande, quase agressiva, fundo escuro, flores pouco delicadas e cores fortes.
Durante anos de blog, eu li algumas críticas por gostar de formas amplas. Uma pergunta recorrente sempre foi “Você tem um corpo ótimo, porque insiste em peças largas?”. E isso não tem a ver com ter um “corpo ótimo” (que nem consigo alcançar a definição disso, mas tudo bem), mas com a nossa mensagem pro mundo. A minha é que eu gosto de me divertir, que não me levo à sério, que eu não me importo com padrões. Que eu gosto de ser o ponto fora da curva e que isso não tem problema pra mim.
Adoro um largo + largo e por isso não me incomodo de silhueta mais achatada ou mais ampla. Gosto de peças estruturadas, e compreender isso foi crucial para peneirar minhas preferências.
Outra foto mais antiga, de início de 2014, com uma blusa de renda comprada na C&A. Eu não gosto desse look porque reúne todos os elementos que eu não usaria mais hoje em dia, uma blusa com estilo mais romântico e um short com a estampa-febre na época, o azulejo português. Acho que bati a cabeça na hora de comprar esse short, porque essa estampa não tinha nada a ver comigo! hahaha
Hoje eu continuo gostando de textura + estampa, mas prefiro que a coordenação vá pro lado mais esportivo. Gosto mais das linhas retas, dos clássicos como bolas e listras às estampas da modinha, gosto do pé no chão da alpargata do que o frufru.
“Ana, mas você não usa nada com renda?” Opa, até uso, mas tem que ser algo mais moderninho ou numa mistura com materiais que deem mais peso a ela. Esse look de 2014 mostra uma produção de inspiração lady like, quando fiz uma sobreposição de blusa com um vestido que eu nem amava tanto, mas numa proposta mais atualizada com a mistura de texturas, deixando o visual preto total mais interessante. Aliás, gosto mais até por parecer ser uma peça única, quando na verdade tem sobreposição.
Mas acho que o principal ganho desse amadurecimento do meu estilo, foi perceber que eu não preciso de tantas bolsas – e vamos combinar que é o tipo de acessório que ocupa espaço pra caramba. Desde que comprei esse modelo bucket preta e depois uma caramelo da Adô, eu praticamente não troco de bolsa.
Mesmo ela não tendo compartimentos internos, ela tem um tamanho bom (não é grandona nem pequena demais), cabe tudo que eu preciso e acompanha toda e qualquer produção.
Claro que o post foi baseado na evolução do meu estilo, deixando tudo pautado numa maneira mais simples de passar essa ideia e de, aos poucos, ajudar vocês a perceberem melhor sobre nós mesmos e nossas escolhas.
A evolução pessoal pode ser acompanhada também do trabalho de uma profissional de estilo, para nortear e ajudar a definir prioridades, mas também vai muito de olharmos mais pra nós mesmos, pro que nos deixa felizes em frente ao espelho. 🙂 Menos expectativa, mais mão na massa!
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