O tema de hoje é mais polêmico que mamilos e mais debatido que novela das nove: roupas da FARM. Mais precisamente o fato de uma mulher gorda como eu posar com roupas compradas na marca, conhecida por vestir apenas moças magérrimas.
Até o ano passado eu nunca havia entrado em uma loja da FARM, simplesmente porque assimilei a ideia de que nenhuma peça ali me serviria. Bom, muitas peças (a maioria) não me servem, mas, vejam bem, é assim em todas as lojas de moda regular – vide esse post de garimpo que nada mais é que uma voltinha pelo shopping. Algumas pessoas do meu convívio já falavam sobre algumas peças que cabiam sim em gordas, mas nada que me motivasse… até que eu vi a foto de uma mulher que tem o corpo bem parecido com o meu usando vários vestidos, e até calça da marca. O vestido que essa mulher usava era da coleção nova, uma outra amiga também já havia comprado e me sugeriu ir até a loja do Rio Design Barra e procurar pela vendedora Thais, que a atendeu bem e certamente me atenderia também.
Só quem passou grande parte da vida acreditando que nunca entraria numa peça de determinada marca sabe o que eu senti. Entrei na loja tímida, procurei pela Thais, pedi o tamanho G do vestido desejado. No cabide havia um tamanho M, e eu dei uma risada debochada quando ela sugeriu que eu o levasse ao provador enquanto ela desceria com um maior do estoque.
Quando vesti o M e me olhei no espelho, mal conseguia acreditar. O vestido cabia, e nem de longe estava apertado – na verdade eu estava tão eufórica que não percebi que poderia ser um tamanho P, haha. Ali eu criei uma relação de cumplicidade e parceria com a Thais, a quem chamo carinhosamente de “vendedora titular”.
Infelizmente a minha experiência é uma exceção, já li reclamações constantes sobre o atendimento nas lojas da FARM. Segundo grande parte das mulheres, se você não estiver nos padrões de beleza, é recebida pelas vendedoras com olhar de desprezo e atendimento preguiçoso. Para ser justa, nunca fui vítima dessas ocorrências nas três lojas da marca que entrei.
Apesar de ser um ponto fora da curva, creio que em 2017 não cabe mais esse tipo de postura vinda de uma marca conhecida pelo estilo good vibes. Acredito que isso esteja mudando, já que tenho visto mulheres maiores vestindo FARM e relatando bom atendimento.
É curioso ver como o público alvo da loja não aceita bem as peças que vem com modelagem maior. Os comentários são sempre pejorativos, as peças que cabem em mulheres maiores são consideradas feias, “sem forma”, esquisitas. Entendo que a falta de padronização pode incomodar as clientes mais antigas e fieis, mas também reparo que falta se colocar no lugar da colega que ficou feliz por finalmente ter algo que a sirva.
Infelizmente as calças, shorts e algumas saias ainda estão super limitados nos tamanhos e modelagens, fazendo com que muitas das mulheres que estão dentro dos padrões achem absurdo uma mulher gorda usar roupas da FARM. Na realidade, essas pessoas querem uma aliada à frustração delas mesmas. Nunca vi esse esforço para fazer com que a moda se democratize na seara dos tamanhos. Se eu resolvesse boicotar todas as lojas que não fazem roupas pensando no meu corpo, eu andaria praticamente nua.
Ironias à parte, seria maravilhoso termos uma grade maior de tamanhos, ou, na falta disso, coleções Plus Size a cada estação. Se a marca já conta com peças petite – tem short e calças tamanho 34! -, por que não expandir os tamanhos para mulheres maiores?
Prestes a completar 20 anos, a FARM ainda peca como uma adolescente em alguns aspectos bobos, mas dá sinal de maturidade ao deixar claro que ainda tem muito fôlego para crescer cada vez mais. A marca não tem como hábito ceder às tendências, e, quando o faz, ainda assim faz questão de imprimir sua identidade para que não haja dúvidas sobre a procedência daquela roupa. É essa a impressão que eu tenho ao ver a legião de fãs – e também de haters – que a FARM acumula.
Mariana Rodrigues
Carioca, 29 anos, gorda. Tagarela de carteirinha, fã de chá gelado e viciada em bons debates na internet. Apaixonada por moda e televisão, escreve sobre esses e outros assuntos também em seu blog aquelamari.com
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