Na quinta-feira a coleção da estilista Paula Raia em parceria com a Riachuelo chegou às lojas, mas antes abriu os trabalhos com um desfile transmitido ao vivo nas redes sociais com participação de famosas vestindo as peças da coleção. Sugeriram uma inspiração nas personagens dos livros de Jorge Amado, acho que mais pelo trabalho autoral da marca, que prioriza o feito à mão e tecidos naturais do que pelas cores das histórias do escritor baiano.
Eu na verdade não vi nada, só reproduzi o que me contaram. Trabalhei até domingo incansavelmente e não tive como conferir a coleção no dia – e, para ser bem sincera, não estava motivada em cobrir algo (que fica distante da minha casa) de uma rede varejista com a qual não compactuo com a forma que conduz a sua mão de obra, com as relações trabalhistas e por estar avaliada com amarelo no app Moda Livre por não abrir totalmente seus métodos de produção.
Mas ainda assim mantive a curiosidade, pois acompanho o trabalho de Paula Raia desde a época da sua marca Raia de Goye – com a estilista Fernanda Goye –, que já teve coleção com a C&A, inclusive. Respeito máximo pela estilista, mas sei que seu nome não é conhecido pela maioria das pessoas (aliás, pesquisem sempre o trabalho e trajetória das marcas e estilistas, isso é super importante antes de sairmos falando por aí, eu já aprendi a lição). Sendo assim, na sexta, após atendimento de lojas com uma cliente, fui à noitinha na loja de Ipanema conferir o que sobrou – sim, restou apenas uma arara com as parcas peças remanescentes.
Peguei o que tinha e fui ao provador. Infelizmente não daria tempo de escrever e tratar as fotos pra postar aqui no blog, então adiantei as minhas opiniões através de stories (os vídeos de 10 segundos do instagram) e de uma posterior postagem na rede social, essa aqui:
Eu me assustei com a repercussão do que comentei no provador e da foto-legenda: muitos compartilhamentos em outros perfis e grupos de facebook, mais de 300 mensagens inbox para eu responder e outros 380 comentários na foto. Li todos, respondi um a um, e a maioria esmagadora apoiou as minhas considerações.
Reproduzo aqui:
“Ah, o vestido da Bruna Marquezine pro desfile da Paula Raia pra Riachuelo”. Eu não vi a moça vestindo ele, mas é assim, por meio de estratégias caríssimas de persuasão, que vemos as roupas da coleção voarem em velocidade assombrosa – mesmo sabendo que o vestido custa R$370 e que nem veste bem na real.
Não é sobre o preço apenas, mas sobre questionarmos mais as nossas escolhas. Quais são as nossas reais necessidades e nosso comprometimento com o que queremos comunicar pro outro? Valorizamos marcas autorais ou pagamos caro por algo que nem sabemos de onde veio – e a que custo foi produzido? Queremos ter nosso trabalho valorizado mas reclamamos do preço praticado pela costureira do bairro?
Por que você consome o que consome? O que motiva suas escolhas? Qual seu nível de consciência sobre tudo isso?
Questionar é fundamental para termos não só uma sociedade mais justa, como aumentarmos nossa percepção sobre nosso estilo, nosso consumo e nossos ideais na vida.
Sobre o que achei da coleção:
As peças da Paula não são fáceis de se reproduzir em larga escala, ainda mais moulage em fast fashion. Mantiveram a ideia do handmade (!) e dos tecidos naturais em algumas, gostei de algumas propostas que ficaram bem diferentes, com decotes e costas fora do padrão que vemos na loja, mas não sei sobre algumas execuções.
Esse vestido de laise, por ex, achei que ficou muito armado e era das poucas peças com forro e corpo em 100% algodão. Todas as outras possuíam alguma mistura com sintéticos – que por um lado por ser bom para não ficarem muito amassadas, mas por outro, se o forro tiver a maior parte disso na composição, pode esquentar.
Por saber da produção em larga escala, logo, possuem uma boa brecha para negociarem preços das matérias primas, achei os preços surreais. O vestido acima custava quase 380 reais! GENTE! Numa fast fashion é uma fortuna – preço próximo aos praticados por outra que acho muito superestimada, a Zara.
O shortinho de cintura alta reproduzia um linho e a estampa em silk, mas R$170 reais nele é demais para a minha cabeça e bolso. Assim como a blusa, achei fofo o detalhe nas costas – apesar de ser um tico confusa pra vestir – mas pela fortuna de R$180 reais, SEM CHANCE!
O vestido segue a mesma composição do short! não tinha mais meu tamanho, peguei um tam 40, maior pra mim. Achei bonitinho, gostei das costas, mas eu lembro que custava também algo em torno de 250 reais. O acabamento interno era bem executado.
Esse vestido era todo em poliéster, achei desconfortável e modelagem estranha. Custava 289 reais e tinha em preto também.
A blusa tentava seguir a proposta da marca, mas não gostei do toque do tecido, mais rígido, que influenciava o caimento. A calça tinha uma modelagem interessante, mas não consegui avaliar bem porque só tinha um tamanho maior que o meu.
A seguir vestido e macacão em poliéster – não me agrada essa composição, porque no Rio é quente demais para isso. Fora que foge da proposta da grife e não justifica os preços caríssimos praticados – o macacão custa inacreditáveis R$330!
O body tinha uma textura interessante, mas, mais uma vez, com sintético na composição.
A cartela em tons crus não agradou muita gente, mas trouxe a possibilidade de cores mais curingas e na onda do verão – mas não acho que justifique preços tão altos, ainda mais se muita coisa tem sintético na composição.
Não é uma coleção pra dar lucro pra rede, sendo mais para gerar burburinho e deixar a Riachuelo mais próxima de uma rede que produz moda e não apenas vestuário.
E vocês, o que acharam? Qual a sua opinião sobre toda essa estratégia de marketing X escolha da grife X preços?
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