Eu recebi esse email da Alê, leitora do blog que acabou de se tornar mãe, mandou seu desabafo sobre como o vestir pode ser cruel quando deixamos de ser um padrão aceitável ou buscamos apenas algo que não seja o pré-estabelecido.
Alê teve uma filha, ganhou peso considerado normal para o período e não só se deparou com a realidade do limbo que os tamanhos 44/46 se encaixam nas lojas, como pensou na dificuldade para suas amigas gordas poderem se vestir nas fast fashion.
Ela traz um questionamento em seu texto: quando as lojas falam de tamanhos democráticos, de diversidade, de celebrarem os diferentes corpos, esse discurso contempla de verdade essa diversidade ou é preciso experimentar e vestir tudo na loja para entrar nas roupas – quando deveria ser o contrário?
Na foto abaixo, a Duda, que sigo no instagram e está grávida do segundo filho, também na busca por roupas não caretas que caibam a barriga.
“Olá Ana, tudo bem?
Começo dizendo que admiro muito o seu trabalho e a sua garra! Comemoro com você cada conquista sua, pode ter certeza! Já fui da fase de acessar todos os blogs de moda, me inspirar no que ditavam tendência e, hoje, mais madura e agora mãe, digo que seu blog é o único que acesso e tem, para mim, relevância!
Como disse acima, agora sou mãe. Mãe de uma garotinha linda de quase 3 meses, a Helô e desde a semana passada sinto que devia te escrever, pra compartilhar algo que até então era desconhecido para mim.
Quando engravidei, estava com 75 kg para 1,65m, mas nunca demonstrei na aparência o que mostrava a balança (sempre aparentei bem menos do que, de fato, pesava). Com a gravidez veio uma série de contratempos e o maior susto de todos, que foi desenvolver pedra na vesícula e ter que operar para retirar com 5 meses de gestação. Vivi o céu e o inferno nesses 9 meses.
Enfim, a Helô chegou e era muito mais do que eu podia ter querido; é linda, espertinha é saudável! Com os contratempos da gravidez, engordei 13 kg, o que é um ganho saudável.
A primeira observação é: lojas, mulheres engravidam todos os dias. Elas precisam se vestir. Elas não querem só calça legging, “bailarina” ou camisetas com escritas “fofas” sobre quem está chegando, “aqui tem um bebê”, etc. Essas mulheres trabalham, saem, se divertem e mostram a gravidez na barriga, não na camiseta pedido-engraçadinha!
Já me preparava para as dificuldades pós parto, sobretudo o puerpério, mas com tudo o que passei, fui contemplada com um time de hormônios que colaborou comigo e fiquei bem… até ter que comprar roupas que se ajustassem a nova vida, como amamentação. Com essa busca, eu fiquei bem deprimida, pois mesmo tendo perdido 10 kg em um mês, meu corpo já não tinha a mesma forma e essa nova forma com 80 kg não se encaixava em nenhuma roupa, em nenhuma loja que não fosse Plus Size.
Fiquei realmente mal, por que como um corpo recém parido, com uma barriga mais saliente e uma coxa mais grossa não cabem no vestiário comum?
Como é possível mulheres com 80 kg terem que comprar roupas Plus size? Tenho amigas que pesam 115, 125 kg (uma delas, aliás, modela para eventos Plus e ouve que deve emagrecer para se ajustar ao nicho… oi?!) e fiquei pensando como elas se sentem em busca de algo que as faça se sentir bem, que traduzam o que elas são. Lojas como Renner e CeA investem num Plus size que não é real. As calças jeans 46 não servirem em uma mulher de 80kg é algo que não entra na minha cabeça.
Enfim… com essa realidade, me vi tendo que comprar roupas em lojas menores, de rua, voltadas para senhoras, pois não sou mais o público de fast fashion. Não sei se voltarei a ser, pois fazer dieta para me “encaixar” não está nem entre os 100 planos imediatos na minha vida, mas me deixa triste ver como a luta por representatividade, por diversidade na moda está mais no campo da demagogia do mercado, do que na concretude das roupas.
E descobri, enfim, um dos gatilhos de tristeza no período do puerpério, que em absoluto tem a ver com hormônios ou com o bebê… tem a ver com a sua redescoberta num modelo que você não mais se encaixa.
Desculpa o desabafo, mas como te disse, seu trabalho e sua linguagem chegam em mim, tal como uma conversa de amigas numa mesa de boteco, em meio a coxinhas, cerveja e divagações.”
Alê trouxe à tona muito do que precisamos ter ainda no mercado de moda e na hora do provador: empatia. Pensar mais no próximo, questionar e indagar mais para que todas possam se encontrar e serem elas mesmas em todos os períodos das suas vidas.
A moda ainda se revela muito distópica. Quem sabe um dia a teremos menos engrenagem dessa roda capitalista, menos manipuladora e segregadora. Podemos sonhar com esse cenário, mas eu prefiro pensar que faço a minha parte escrevendo sobre aqui, plantando ideias, buscando soluções e, assim, disseminando mais o que esperamos desse mundo. O olhar sensível sobre o outro.
Quem recomenda marcas e quer compartilhar suas experiências nesse período, para ajudarmos outras mulheres?
Em tempo, adoro os textos e o estilo da minha amiga Fernanda na sua segunda gravidez, botando os comprimentos cropped e justinhos pra jogo, com ideias possíveis e acessíveis!
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