A Erica Rabello, participante querida e ativa do grupo Moda Pé no Chão no facebook, levantou uma questão boa para quando podemos saber até quando vale a pena tentarmos manter os sapatos. Fora essa sua pergunta, muita leitora veio perguntar como faço para reciclar os sapatos ou onde descartá-los corretamente.
E aí a Daniella, que acompanha o blog, veio compartilhar essa matéria, que traz a terrível notícia do quão prejudiciais os sapatos são ao meio ambiente. Pelo conjunto de materiais usados na sua confecção, sendo necessário um rigoroso trabalho manual para tentar dsassociar tantos produtos usados e, por consequência, um baixo aproveitamento deles, não é possível encontrar tanta gente disposta a reciclar sapatos.
“Segundo a coordenadora geral do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu), da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Tereza Cristina Melo de Brito, outra questão que impacta na reciclagem é a dificuldade de juntar grandes volumes dos componentes presentes nos sapatos. O plástico coletado, por exemplo, costuma ser vendido pelas cooperativas à indústria em lotes de 400 kg.
“O calçado feminino é um grande problema, porque tem muitos enfeites. É difícil, por exemplo, conseguir volume de uma mesma pedraria que adorna um sapato. Seria necessário reunir muitos pares iguais, o que não acontece”
Quando param nos aterros sanitários, o desastre é incalculável: muitos são feitos de plástico e até os de couro representam perigo, pois a matéria prima é amaciada com cromo, substância tóxica e altamente contaminante.
Usado ou desgastado?
Uma coisa que me deixa sempre encucada quando vou em casa de clientes, é como elas classificam roupas usadas como desgastadas – a mesma coisa para sapatos. Às vezes o bichinho tá bom, só tem as marcas inerentes ao uso, mas já achamos que parece que está velho e esculhambado demais para usar, que é quando já está todo esfarelento, com manchas muito bizarras, pontas extremamente arrebentadas e que não deem pra consertar ou, simplesmente, com um aspecto feio, que é bem diferente do que é usado.
Temos que demover essa ideia de que marcas de uso são ruins. Sapato bom é aquele que a gente usa, que não aperta joanete e nem esfola o calcanhar, que não cansa os pés e as pernas, nem deixa dolorido. Sapato bom tem as marquinhas do tanto que ele já fez a gente caminhar por aí!
Legal, Ana, mas qual é a solução?
De imediato não penso em nada que não seja PARAR DE COMPRAR TANTO. A indústria fomentou essa necessidade feminina, criada pelo capitalismo, aliás, de que mulheres têm paixão por sapatos. E dá-lhe incentivar a galera a comprar loucamente, 4 pares de uma vez, shoelovers, sapateiras lotadas com centenas de pares.
Sapato bom dura uma vida. Escolha um modelo de qualidade, atemporal, que você tentará usar muito e que seja confortável, para te acompanhar por décadas.
Mesmo que se use todos, vivemos numa época em que a obsolescência planejada impera, e novas tendências virão, gerando desejo constante. Se antes era bico fino, agora o bico é arredondado; flatform no lugar da meia pata; spadriles X anabelas e por aí vai.
Eu mostrei aqui meu problema com sapateira cheia e estou empenhada em reverter isso logo, mesmo compreendendo que alguns pares ali eu uso para produções. Não que seja crime ter e usar tudo, mas sabemos que a maioria das pessoas não age assim com essa consciência.
Na matéria sugerem que tentemos focar mais em sapatos de tecido e que sejam veganos, que tem materiais que agridem menos o solo por não serem de couro. Eu conheço (e adoro!) a Insecta Shoes e a Estúdio NHNH, que reaproveitam sobras têxteis. Que outras marcas vocês conhecem?
Penso que devemos tentar usar ao máximo o que temos, por isso tenho levado meus sapatos demais no sapateiro para ele revitalizar meus calçados ao costurar, trocar solado, consertar fecho. Tênis muito encardidos eu já levei em lavanderias especializadas para lavá-los.
Lembrando que sempre dá também para pintar seu tênis em casa, customizá-lo, trocar cadarços, mandar tingir – existem vários tutoriais no YouTube!
E sapatos que você já enjoou e ainda estão resistindo?
Doar ou trocar! Doar mesmo que seja de marca e esteja em bom estado, sabe? Temos mesmo a mania de condicionar o que está muito trapinho pra doação, acredito que pessoas menos favorecidas merecem e muito também receber o melhor! Se não usamos, se já gastamos o dinheiro, qual o problema em fazer alguém feliz e com o pé protegido, sabe?
Trocar com amigas e familiares também é uma ótima maneira de fazer aquela peça girar. Outra ideia é não gerar demanda alta da indústria, comprando em brechós.
ONG que recicla
Na matéria indicaram a Recicalce como a única que oferece a reciclagem dos pisantes. Eles recebem doações pelos correios e promovem a inclusão social, além de revitalizarem os calçados, disponibilizando para doação, além de reciclagem dos componentes dos produtos sem condições de reuso e descarte das sobras em aterro industrial conforme as leis ambientais vigentes.
Em 2017, o descarte em aterro industrial, atinge a marca de 59,047 toneladas e passaram a barreira dos 100.000 pares de calçados recebidos ao atingir a marca de 100.677 pares e doados 58.718 pares a mais de 140 entidades carentes.
Aqui tem mais informações para quem quiser contribuir!
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