Toda vez que comento sobre a importância de lermos as etiquetas internas das roupas para saber principalmente a composição delas, é muito comum confundirem a composição com tecido.
Ninguém precisa saber tudo, claro, né, mas isso dá margem a algumas dúvidas e equívocos, como já recebi mensagem de gente denunciando loja que vende roupa de “linho de poliéster”(!!!) como se linho fosse o tecido e aí linho sendo de poliéster seria uma coisa boa, OI? hahahaha, sim, doideiras sem sentido algum pra enganar o consumidor. Ou muita dúvida mesmo de leitoras, sem saber se quando está escrito “cetim”, se é uma coisa boa ou ruim, sendo que cetim é o tipo de tecido e ele pode ter composição de fibras diferentes, como seda (natural) e sintética (poliéster).
Fibra é uma coisa, tecido é outra!
Fibra têxtil é a matéria-prima a partir da qual os tecidos têxteis são fabricados.
As fibras podem ser naturais (de origem animal ou vegetal, como lã, linho, seda, algodão), artificiais (feitas em laboratório a partir de polpas celulósicas, como viscose e acetato) ou sintéticas (feitas a partir do petróleo, como poliéster, nylon, poliamida, etc).
O que é um tecido, então?
As fibras são transformadas em fios pelo processo de fiação, e os fios, por sua vez, diferem entre si e dependem do comprimento das fibras, que podem ser longas ou contínuas, como os filamentos de poliéster, poliamida e etc, como as fibras da seda, ou mais curtas, como as fibras do algodão ou lã. As fibras são transformadas em fios por processos físicos, através do filatório, e, assim, os fios são transformados em tecidos.
Os tecidos planos possuem estrutura resultante de sucessivos entrelaçamentos de dois fios, um do urdume e outro na trama, que cruzam e formam um ângulo reto. (foto acima do maquinário de tecido plano)
As malhas são produzidas em teares circulares, obtidos por meio do entrelaçamento de um fio com ele próprio, em um processo idêntico ao tricô. (foto abaixo do maquinário de malharia)
O modo de tecer os fios determina a estrutura básica de um tecido, ou seja, seu padrão, e a tecelagem pode ser feita de inúmeras maneiras, sendo três os ligamentos básicos de cruzamentos dos fios da trama: ligamento tafetá, ligamento sarja e ligamento cetim.
Existem tipos diversos de tecidos, que diferem em composição, textura, trama, e eles podem ser de composições diversas. O mesmo tipo de tecido pode ser feito a partir de diferentes tipos de fibras. Por exemplo: cetim é o tipo de tecido, ou melhor, uma das formas de fazer tecelagem, e ele pode ser composto de fios de fibras naturais, como seda, ou de fibras sintéticas, como poliéster.
Sendo assim, pode ter cetim de seda ou cetim de poliéster, o que também influencia nos valores (seda é mais valiosa que poliéster) e qualidade (seda tem um toque melhor, não esquenta tanto quanto poliéster), fora outros fatores, como o toque, que pode ser mais confortável ou mais áspero.
Os tecidos também podem ser feitos com composição mista, mesclando dois tipos diferentes de fibras, ou do mesmo grupo. Tudo vai depender do toque que se quer dar, do tipo de tingimento (natural ou artificial), do uso (se precisa ser resistente ao calor, como no uniforme dos bombeiros). Se eu vou passar o dia sentada, posso escolher uma roupa que tenha maior quantidade de fibra natural, como algodão, para me dar conforto térmico e no toque, mas ele podem ter um percentual mínimo de elastano (fibra sintética) na sua composição para dar maleabilidade à peça e menos amarrotamento. É muito comum, por exemplo, vermos peças mistas de linho e viscose (55% linho e 45% viscose), o que confere um valor mais em conta (linho é bem mais caro quando 100%) e também o tingimento (a viscose permite outras formas de tingimento, coisa que não conseguimos com o linho puro).
Mas nem todo tecido com mesmo nome e fibra são iguais!
As fibras têm características que as diferenciam e a partir delas são selecionadas para a produção dos tecidos, como a hidrofobilidade (capacidade de absoerver ou repelir a água), resistência (característica de certas fibras voltarem ao estado natural depois de serem amarrotadas), o toque (conforto em contato com a pele), finura (seu diâmetro ou espessura, mais fina ou grossa), e comportamento diante de produtos químicos.
Por isso temos também diversos tipos de tecido, de maior qualidade ou menor qualidade, valores diversos, toques e cores variados.
Bibliografia consultada: Tecidos – história, tramas, tipos e usos. Dinah Bueno Pezzolo, editora Senac; Guia prático dos tecidos. Maria Helena Daniel, editora Novo Século.
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