Já tinham me falado e fui conhecer finalmente a Oficina Muda, multimarcas de upcycling (que é a ação de transformar, consertar e ressignificar peças de roupa que seriam descartadas, para viabilizar seu uso por mais tempo) criada para ajudar a gerir os resíduos sólidos de forma criativa de marcas parceiras como Farm, Fábula, Cantão, Maria Filó, Ateen, Dress to e Agilitá.
A marca tem 3 lojas no Rio de Janeiro: em Laranjeiras, a loja conceito, Copacabana e Tijuca e também possui e-commerce. Fui na loja tijucana, que fica mais “escondida”, no andar superior de uma galeria que não é notoriamente de marcas de moda. A loja é linda, com uma decoração bacana, em madeira, com os conceitos de reciclar e reuso escritos nas paredes e um mezanino que remete a um ateliê de costura (mas achei que é mais enfeite do que utilizado de verdade). Recebem novidades toda semana.
A Muda recebe peças dessas marcas que seriam facilmente descartadas no crivo de qualidade: são peças piloto, com pequenos defeitos e de coleções passadas que são reformadas, lavadas, tingidas, desfibradas, ressignificadas e colocadas à venda. Além de roupas femininas e infantis, têm acessórios, óculos de sol, bolsas e sapatos, alguns vestidos de festa, jaqueta de couro, mas todos com limitação de grade de tamanhos. Ah, e como essas marcas não tem grade extensa, infelizmente a numeração também restringe corpos maiores.
Pra começar minhas impressões, pelo que vi na Tijuca não consideraria upcycling. As reformas não descaracterizam a peça, como por exemplo era o trabalho da Gabriela Mazepa no Re Roupa, que transformava calças em blusas, os vestidos eram costurados juntos e viravam novos vestidos, camisas que poderiam virar tops e shorts. As roupas são reformadas para viabilizar o comércio, mas não transformadas, porque a maioria estava com etiqueta original das lojas. Não sei se não me apresentaram direito aos produtos, mas não vi nada transformado ou ressignificado ali, talvez tenha mais só no e-commerce ou nas outras lojas, que nem vi aqui no instagram da Muda, uma capa de chuva feita de bolas furadas por 289 reais e poucas peças (adorei).
Li nessa matéria que a Muda têm parceria com a Rede Asta, de artesãs, mas não vi de forma clara na loja as peças da Asta – talvez estejam na loja conceito ou à venda só nas lojas da Rede Asta, o que não vejo sentido.
Algumas pessoas comentaram que acharam os valores ainda um pouco caros, e claro que não é desvalorizando o trabalho das costureiras, mas por serem roupas e peças que continuam com as etiquetas das marcas originais, o branding pesa aí, porque continuam sendo peças com valor de marca. Quando eu ia no bazar dessas marcas, as etiquetas eram cortadas (exceções do bazar da Andrea Marques e Totem, que mantiveram as etiquetas, mas FARM e Animale, por exemplo, sempre cortavam).
Por isso, para peças que mesmo reformadas porque apresentavam defeitos, o valor final ainda continua ou próximo do original ou caro para os padrões do poder de compra reduzido que temos hoje, não são muito acessíveis. Mas aí entra também a questão de que está tudo caro, até fast fashion tá preço de boutique, exorbitante mesmo. E eu acho que garimpando podemos sim encontrar peças com bons preços ou que valem o custo x benefício.
As roupas da Fábula e Bentô custavam acima dos 100 reais. Um vestido Cantão na etiqueta original (achei bacana que mantiveram os valores) custava 350 e estava sendo vendido a 230 reais. Mas também provei um macacão Cantão que era 500 e tantos e estava sendo vendido a 200 e poucos. Se fosse uma peça que eu tivesse amado na loja, seria uma boa oportunidade. Biquinis a 50 reais cada parte das peças. Jaquetas de couro maravilhosas e com assinatura de artista visual, mas por 1.500,00.
Acho que também esperamos que peças descartadas tenham um valor muito simbólico, quase de brechó. Mas tem todo um operacional a ser mantido nesse conceito, por isso a Oficina Muda se apresenta como uma multimarcas: tem aluguel, luz, funcionárias, transporte, costureiras, designer de moda, etc.
Eu gostei de uma sandália que tava de olho há tempos e saía a 200 e poucos. Achei uma boa compra, porque não era uma sandália simples e eu estou realmente com quase nenhuma sandália depois da pandemia. Então se considerarmos nossas necessidades, custo x benefício, valor de marca (eu não teria como pagar o preço cheio dela) e o quanto gostamos de uma marca, pode ser uma boa, sim. Se você quer pagar preços melhores, sugiro brechós físicos e online, que terão custo bem menor.
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