Quem me acompanha aqui há uma década ou mais, vai perceber a mudança do meu estilo ao longo dos anos. Quando comecei a frequentar mais São Paulo a trabalho fui adotando um estilo mais dramático, urbano, achava o máximo usar terceira peça (me julguem, rs), queria um armário lotado de peças de alfaiataria. Tinha raiva no verão do Rio, porque era inviável eu me vestir como gostaria com tanto calor e, pior, eu realmente comprava muita roupa em SP e sendo assim era tudo inviável pro clima carioca!
Que loucura, hahaha, eu queria meter uma terceira peça em tudo para me sentir mais arrumada, queria mil camadas e roupas de frio e taca-lhe pau na cidade que eu vivo e ignorava o fato de que não precisava virar farmete, rs, mas que eu poderia ter coerência com meu estilo no calor e ter também conforto térmico hahah!
Eu mudei, repensei um tanto de coisa, me tornei mãe, essas paradas todas que sabemos e aí vi mais ainda o quanto eu adorava aquelas roupas com muita qualidade que eu havia comprado ao longo dos anos mirando na consultora de estilo descolada porém urbana. Só que eu vivia frustrada por não usa-las aqui, o que me fazia comprar roupas mesmo tendo várias delas, para poder suportar o calor.
Demorei a entender que minhas roupas não condiziam com meu estilo de vida e nem com minhas necessidades. Mas seria apenas alguém tentando ser quem não era pra justificar anos e anos assim?
TRABALHO TEM VALOR, O LAZER, NÃO
Pois segura essa: o estalo veio esses dias, quando minha mãe disse que poderia me ajudar com minha filha nas férias, mas SÓ SE FOSSE PRA EU TRABALHAR. A ênfase reforçava que eu poderia contar com a ajuda dela em algo sério, importante, como o trabalho, mas NUNCA JAMAIS pro lazer, algo frívolo.
Meus pais não eram exatamente pessoas sociáveis, pelo contrário. Evitavam ambientes festivos, não viajavam conosco, não iam a festas, não tinham amigos, não deixavam eu e minha irmã nem socializarmos no play. Sério, uma tristeza sem fim para qualquer criança. Como me divertir quando o clima não era esse? Eu tinha tanta raiva de ser criança e não poder fazer nada, que eu queria virar logo adulta.
Cresci querendo muito começar a trabalhar logo para sair daquele ambiente familiar, adquirir independência e poder fazer todos meus rolês sem nignuém me proibindo. E somente o trabalho me traria essa suposta liberdade, então emburaquei nele. Minha vida era trabalhar, emendar vários freelas, não ter um final de semana e feriado.
Horrível também, eu sei. Mas a minha geração fazia assim. E com isso minhas roupas refletiam essa visão de que a vida se resumia ao trabalho. Que ele seria valorizado pelos meus pais, que me traria autonomia e recursos. Uma grande falácia, rs, o trabalho me aprisionou e me fez gastar muito dinheiro com roupas hahah
Mas se o trabalho era tão valorizado por mim (e referenciei nos meus pais), claro que minhas roupas iriam refletir essa rigidez desejo por algo que representasse no meu vestir esses valores. Eu não sabia descansar, relaxar e nem planejar muita coisa que não fosse evento de trabalho…
Depois que tive nina, minha visão e vontade de mundo mudaram. Na verdade isso começou em 2017, quando me separei do meu primeiro marido, e hoje tá mais latente do que nunca. Gosto do meu trabalho, mas eu gosto mesmo é do meu samba do trabalhador (a ironia hahah), da praia no entardecer, do descanso absoluto. Adoro vadiar, adoro viajar pra passar os dias longe de qualquer possibilidade de trabalho. Amo botequins, encontros, passeios e tento sempre encaixar um pouco dessa beleza nos meus dias, não só nos finais de semana – não à toa vim morar em Santa Teresa, um bairro que mais parece uma cidade do interior, com outro ritmo de vida.
A pessoa que vivia dizendo estar numa correria louca, essa cafonice de workaholic sempre ocupada ficou pra trás. Com isso as roupas mais sisudas, de tecidos encorpados e estruturados deram lugar a fluidez e leveza dos vestidos rodados, das regatas, dos shortinhos. Não uso mais tantas estampas como antes, mas tenho amado cores em tons claros em têxteis frescos e confortáveis, os tops e decotes.
Despretensiosa, leve, gostosa: essa é a minha skin de 2024.
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