Ao longo de tantos anos postando aqui, eu percebi o quanto valia a pena ter mais peças duráveis no meu guarda roupa do que apenas aquelas fogo de palha, da estação, as tendências do momento. Fui deixando apenas as que garantiriam mais qualidade no meu vestir e mais tempo comigo.
Fui aperfeiçoando meu estilo, comprando cada vez menos, ganhando mais e mais a certeza do que gosto e do que funciona pro meu tipo físico, estilo pessoal e estilo de vida. Como vocês podem perceber, é um processo longo, de autoconhecimento, de tentativas, erros e acertos, e é assim mesmo que funciona.
Roupas, assim como sapatos, bolsas e acessórios, sofrem desgastes inerentes ao seu uso. Um furinho aqui, um cerzido ali, uma manchinha de nada que ninguém vê (e que insistimos em apontar e mostrar), nada disso invalida o uso da roupa. Nós nos movimentamos, interagimos, sofremos acidentes na mesa do bar derramando aquele molho no colo, ops, vivemos pra lá e pra cá, abraçamos e nos enroscamos no brinco alheio: tantas variáveis para dizer que é NORMAL não ter peças 100% o tempo todo!
Desgaste de uso e de peça boa, que dura, que só sofre o amassadinho de tanto que vale a pena usar, é diferente daquela que ficou com uma aparência envelhecida rápido, que descascou, que já está inteira se desmontando, pelas tabelas, por conta de má qualidade ou de anos e anos e anos de uso – aí ou se manda tingir, consertar, costurar, adaptar.
Assim como se eu gosto daquela peça, se ela funciona bem até hoje no meu armário, se me faz feliz, se rende, porque deveria ser substituída? Foi essa a pergunta quando li um comentário num look recente meu com meu velho de guerra e ainda mais vivo e lindo do que nunca, o scarpin bronze comprado numa super liqui e que habita minha sapateira desde 2012, acho eu! E que uso sempre em muitos e muitos looks, em todos esses anos:
“Os looks estão lindos, mas esse sapato já deu, está datado”.
Datado.
Hoje tá na moda um recorte mais reto na gáspea, eu sei (o decote do sapato). Talvez o bico também não esteja tão em voga, já que é redondo e a frente pontuda se faz mais presente (que eu amo, aliás). Mas e daí? Eu sei disso tudo, eu acompanho isso tudo. E também atualizo meu armário vez ou outra, com um item aqui e outro ali.
Obsolescência programada é um conceito criado para fazer, cada vez mais, nossos bens de consumo durarem menos, terem uma data certa para saírem de moda ou pararem de funcionar bem. Isso é algo planejado, para que compremos mais, em um curto espaço de tempo, gerando mais demanda da indústria para girarmos mais rápido a roda capitalista.
As blogueiras, sites e revistas mostram a peça do momento. Eu, também blogueira, gosto de mostrar o que ainda tá inteirinho, durando, rendendo no meu armário há anos. E tá tudo bem, também! No que é vergonhoso isso? No que isso desmerece a construção do meu estilo? Qual o mérito dessa comparação?
E se tá todo mundo usando ou passou da moda e ninguém mais usa, mas tá lá, inteirinho, e você curte, o julgamento alheio não pode ser superior à sua vontade.
Não quero recorrer às compras só por modismo ou para me dizer influencer (taca aspas aí). Não tenho esse tempo, nem mais esse pensamento e muito menos esse dinheiro. Isso não invalida nenhum discurso, aliás, só reforça o quanto nós podemos promover uma ruptura de pensamento e lógica.
Eu quem quero estar no comando dos meus desejos e necessidades, entendem?
Outro bom exemplo de peça que uso DIARIAMENTE desde 2013 e que é coadjuvante principal dos meus looks desde então, é essa bolsa preta de couro. Evito comprar mais itens desse material, então bora valer a sua existência?
Tem desgastes? Tem, normal, ela viaja sempre comigo e uso do dia a dia até momentos mais festivos. Tem arranhadinhos? Sim. Está impossibilitada de ser usada mais vezes? NÃO!
E eu continuo adorando ela, não tenho vergonha da aparência de quem usa muito o que se tem, não quero ostentar grife e nem desfilar uma bolsa nova por mês, porque ela resolve minha vida, me completa, vai com tudo, e pronto.
No mundo em que vivemos, com uma maioria esmagadora sobrevivendo com tão pouco, sem acesso ao que é básico, de tudo que se acompanha de malefícios ao meio ambiente, de relações de trabalho desumanas nessa sociedade do consumo, quem você escolhe ser nesse jogo?
Eu prefiro ser, cada vez mais, a que promove uma nova forma de pensar e agir. E dá-lhe scarpin bronze e bolsa saco preta em 2018! 🙂
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